Saturday 3 June 2017

Moonshine, maconha e metanfetamína


Brancos pobres, rurais, com rifles: Sonny Dolly de Inverno Amargo e Daniel Jackson, de Resgate de Soldado Ryan.
Nesta semana, vamos discutir a persistente associação, na mídia popular, com os brancos pobres e criminalidade e/ou comportamento perverso. A leitura principal será o livro de Dorothy Allison, Bastard out of Carolina, e vários outros textos em torno disto.

Também quero que vocês assistem dois filmes. O primeiro é Winter's Bone (Inverno Amargo), obra que foi nomeado por vários Oscars e que apresenta um retrato nada cômica da pobreza rural branca hoje. Acho que isto pode ser visto como antídoto para a visão caricaturizada do "lixo branco" que temos discutido nas últimas semanas.

Para entender o filme, é necessário saber um pouco sobre a ligação histórica de brancos pobres e rurais e o tráfico ilegal de entorpecentes.

Um dos primeiros conflitos da jovem república EUAmericana foi a Rebelião do Uisque, em 1791. O estopim dessa revolta foi o primeiro imposto sobre produtos domésticos criado pelo governo federal: o imposto sobre a produção de uísque. O imposto foi concebido para pagar a dívida federal incurada pela Revolução. Todavia, na região da fronteira, os pequenos fazendeiros e squatters costumavam a transformar o excedente de produção de cereais em uísque, que foi utilizado até como moeda de troca nas áreas empobrecidas da fronteira.

Moonshine...
...maconha...
O conflito entre o Governo Federal e os produtores de "moonshine" ("brilho de luar" -- birita ilegal) tem, então, longa data nas regiões pobres e brancos do sul e das montanhas apaláchias. Essa "guerra" prefigurou a Guerra Contra as Drogas e intensificou, particularmente, durante a proibição, na década de 1930.

Após da década de 1960, muitos brancos pobres na zona rural começaram a plantar maconha em vez de produzir o "brilho de luar" e, em décadas recentes, essa prática tem sido acompanhada com  produção de metanfetamina.

...metanfetamina.


Inverno Amargo fala sobre uma família tradicional de Virgínia Ocidental que se envolve nessa produção e tráfico ilegal e as consequências disto. O filme é excelente porque demonstra bem alguns dos estereótipos positivos do assim chamado "lixo branco": uma forte ética de união familiar, valentia, honestidade, desconfiança de autoridade, sobrevivência.

Para prepara vocês para o filme, quero que vocês assistem esse vídeo aqui, feito por Steve Earle, a música "Copperhead Road". Segue abaixo as letras.... 

Same as my daddy and his daddy before
You hardly ever saw Grandaddy down here
He only come to town about twice a year
He'd buy a hundred pounds of yeast and some copper line
Everybody knew that he made moonshine
Now the revenue man wanted Grandaddy bad
He headed up the holler with everything he had
It's before my time but I've been told
He never come back from Copperhead Road


Now Daddy ran the whiskey in a big black Dodge
Bought it at an auction at the Mason's Lodge
Johnson County Sheriff painted on the side
Just shot a coat of primer then he looked inside
Well him and my uncle tore that engine down
I still remember that rumblin' sound
Well the sheriff came around in the middle of the night
Heard mama cryin', knew something wasn't right
He was headed down to Knoxville with the weekly load
You could smell the whiskey burnin' down Copperhead Road


I volunteered for the Army on my birthday
They draft the white trash first, 'round here anyway
I done two tours of duty in Vietnam
And I came home with a brand new plan
I take the seed from Columbia and Mexico
I plant it up the holler down Copperhead Road
Well the D.E.A.'s got a chopper in the air
I wake up screaming like I'm back over there
I learned a thing or two from ol' Charlie don't you know
You better stay away from Copperhead Road


Copperhead Road
Copperhead Road
Copperhead Road



E em português...

Meu nome é John Lee Pettimore
O mesmo que meu pai e seu pai antes dele
Você quase nunca viu Vovô por aqui
Ele só veio para a cidade, tipo, duas vezes por ano
Ele comprava cem quilos de fermento e um pouco de linha de cobre
Todo mundo sabia que ele fazia brilho-de-luar
O homem da Receita Federal queria muito prender Vovô
Ele subiu para o vale com tudo que tinha
Foi antes do meu tempo, mas eu ouvi dizer
Que ele nunca voltou de Copperhead Road

O papai contrabandeava o uísque em um grande Dodge preto
Que ele comprou num leilão Maçônico
"Johnson County Sheriff" estava pintado na lateral
Ele botou uma camada de primer por cima da porta, e então olhou por dentro
Ele e meu tio reconstruiram o motor
Eu ainda me lembro daquele som roncador
Mas o xerife chegou no meio da noite
Ouvi a mãe chorando e sabia que algo não estava certo
Ele estava indo para Knoxville com a carga semanal
Você podia sentir o cheiro do uísque queimando no Copperhead Road

Eu me ofereci para o Exército no meu aniversário

Por aqui, eles pegam o lixo branco em primeiro lugar para o serviço militar obrigatório
Fiz duas excursões em Vietnã
Cheguei em casa com um novo plano 


Peguei sementes da Colômbia e do México
E as plantava lá na vale perto de Copperhead Road
A DEA* tem um helicóptero no ar
Acordo gritando com eu estivesse de volta ao Vietnã
Eu aprendi uma ou duas coisas de meu velho camarada Charlie**, 'cê sabe
É melhor ficar longe de Copperhead Road

Copperhead Road
Copperhead Road
Copperhead Road


* DEA = A agência federal de combate às drogas.
** Charlie = Victor Charlie = VC = Viet Cong, as guerrilhas que lutavam contra as forças americanas em Vietnã.

É claro que a associação de brancos pobres com a metanfetamina e moonshine também criou uma série de estereótipos, expressas no humor:




Como vocês podem ver, nessa recriação, meth é hilário... not.


Sunday 14 May 2017

Temporiariamente a Comarca de Humboldt



O título da entrada dessa semana vem de uma antiga esquete de comédia do grupo "Firesign Theater". Famosos no final da década de '60 e no início da década de '70 para seu humor subversivo, os Firesigns oferecem nessa peça  uma breve síntese de 400 anos de história indígena americana. O nome da peça vem de uma placa que os membros do grupo encontraram numa manifestação indígena na comarca de Humboldt em Califórnia: "Temporariamente a Comarca de Humboldt" era a maneira dos índios avisar a civilização a sua volta que ela, também, passará para a poeira da história.
 
"THC" (nota bem a sigla) faz parte de um "triptyche" de três esquetes compondo uma visão do passado, presente e futuro dos EUA. A peça que segue THC é "W.C. Fields Forever", cujo título é uma combinação do título da música dos Beatles "Strawberry Fields Forever" com o nome do comediante americano do teatro de revista do início do Século XX, W.C. Fields. Essa esquete retrata uma colônia hippie num dude ranch no oeste americano, liderado pelo "Dr. Tim" (i.e. Timothy Leary), um guru que insiste que seus seguidores "meditam sobre a luz branca e pura da estupidez". A esquete final é "Le Trente-Huit Cunegonde", que presenta um futuro em que os hippies dominam os EUA e bombardeam seus inimigos com três milhões de toneladas do livro The Naked Lunch do autor beat William S. Burroughs.

Vocês podem baixar ouvir as três esquetes aqui, ou ouvir "Temporarily Humboldt County" no YouTube, here.

Em outros assuntos, falamos muito sobre o livro/filme O Sol É para Todos,  onde dois modelos do branco americano típico aparecem: o bom e liberal advogado Atticus Finch e o "lixo branco" e racista Bob Ewell. O filme pode ser encontrado no Telecine Play, aqui. Sugiro que vocês assistem em algum momento da próxima semana.

Segue abaixo (em inglês, infelizmente) o roteiro da peça "Temporariamente Humboldt County". Por favor, escutam a peça e tentam seguir o roteiro:

THE SCENE: Against a backdrop of the prairies, two Indians watch a herd of buffalo passing by.
INDIAN: Well, I think it's about time - the way the corn's been growing for the last two or three generations.
SECOND INDIAN: Look at that herd of buffalo! They're ready!
INDIAN: Everything's living The Great Spirit's Way - in Harmony.
SECOND INDIAN: He'll be here soon.
INDIAN: The True White Brother is coming home. Remember what the Great Spirit said? If we did what we were supposed to do, and lived according to the Plan, White Brother would finish his work in the East and come back to us.
SECOND INDIAN: It'll be nice to have the family together again.

A Conquistador, a Padre and several Spanish soldiers enter to a trumpet fanfare and flamenco music. The buffalo scatter.

CONQUISTADOR: Buenos dias, amigos!
INDIAN: Hello! You must be The True White Brother!
CONQUISTADOR: Sure! You must be The Indians!
INDIAN: Yes!
SECOND INDIAN: Welcome Home!

All the Spanish soldiers cheer.

CONQUISTADOR: Welcome to New Spain! This is your new Father - Father Corona.
FATHER CORONA: Pax vneuti nicutm! down on your knees, now! D'ye recognize what I'm holidn' over your head, lads?
INDIAN: It's a Cross. The Symbol of the Quartering of the Universe into Active and Passive Principles.
FATHER CORONA: God have mercy on their heathen souls!
CONQUISTADOR: What the Father means is - what is the Cross made of? Gold! Have you got any?
INDIAN: No.
CONQUISTADOR: What about the Seven Cities of Gold? Phoenix, Tucson, Las Vegas?
SECOND INDIAN: This is gold.
CONQUISTADOR: What's that?
INDIAN: Corn.
SPANISH SOLDIER: Corn! Now we can make tortillas!
ANOTHER SPANISH SOLDIER: We been waiting for this for hundreds of years!
THIRD SPANISH SOLDIER: I just invented tacos!
CONQUISTADOR: So this is all you've got?
INDIAN: Yes, but aren't you The True White Bother who's supposed to come and live with us in peace?
CONQUISTADOR: Sure! Therefore, I claim this rich, verdant pasture land in the name of the Empire of Spain!
VESPUCCI: Hey! Hey, Capitano! The rain, she's a-stoppa to fall! And the corn, she's all dead!
CONQUISTADOR: Shuduppa', Vespucch! I claim this stinking desert in the name of the Empire of Spain. Forever! Let's go!
The Spanish soldiers grumble. The buffalo herd mills about.
SPANISH SOLDIERS: (singing) God bless Vespucciland! M-m-m-mmmmmm...
FATHER CORONA: Oh! By the way, Domini Domini Domini, you're all Catholics now! God bless you!
CONQUISTADOR: Come on, Father! No one in their right mind would live in this stinking desert!
THIRD SPANISH SOLDIER: Come on, Cisco!

The Spaniards leave and the Indians hide as a wagon train enters. One Pioneer plays "Oh, Susanna" on a harmonica. Another Pioneer speaks:

ANOTHER PIONEER: Boy! I'm tired o' pushin' West! How long ago'd we leave Goshen?
THIRD PIONEER: 'Bout two hours ago! Ain't we ever gonna stop?
PIONEER: Quiet down now, boys! Wagon Boss is gonna speak!
WAGON BOSS: My fellow settlers! We stand here at the Edge O' Civilization, on the banks of the Mississippi River, lookin' West, at Our Destiny!
PIONEER: You can say that again!
WAGON BOSS: What may appear to the fainthearted as a limitless expanse of Godforsaken wilderness...
THIRD PIONEER: Sure is!
WAGON BOSS: ...is, in reality, a Golden Opportunity for humble, God-fearin' people like ourselves, an' our families, an' our children, an' the generations a-comin', to carve a new life - outta the American Indian!

The Indian comes out of hiding.

INDIAN: Welcome, White Brother!
WAGON BOSS: Injuns! Draw the wagons up into a circle!
INDIAN: Why do you always do that?
WAGON BOSS: We get better reception that way! Do you mind if I put this antenna up on yonder peak?
INDIAN: That's our Sacred Mountain.
WAGON BOSS: This is our Sacred Antenna! It's shaped like a cross! Made out of aluminum. Er... got any aluminum?
INDIAN: We've still got some corn left.
PIONEER: Hey! Corn! Now we can make whisky!
ANOTHER PIONEER: We've been waitin' hundreds o' years for this!
THIRD PIONEER: Say! I just invented a Tom Collins!
WAGON BOSS: Here, Injun! Ya want some firewater?
INDIAN: No. We were warned by our Elders not to drink anything that would make us weak or silly.
WAGON BOSS: (laughs) Put in their well!
INDIAN: That's not a well. It's the Eye of the Holy Serpent Mound, on which your standing.
WAGON BOSS: It's a beaut'!
INDIAN: No, it's a mound.
WAGON BOSS: And right purty, too! er- can ya' move it?
INDIAN: But - why?
WAGON BOSS: Railroad's comin' thru! Right now!

A railroad train loaded with cowboys and railroaders pulls in. The buffalo are scattered and the herd is split.

COWBOY: Hey! What're we stoppin' fer?
RAILROADER: Are we in Goshen Yet?
CONDUCTOR: Cain't go no further. This here's Injun Territory!
GOVERNMENT AGENT: Well, then! It's Treaty Time!
A brass band enters, playing "Hail to the Chief"
GOVERNMENT AGENT: My fellow Redskins! Speaking for the Great White Father in Washington and all the American People, let me say we respect you savages for your Native Ability to instantly Adapt and Survive in whatever Godforsaken wilderness we move you to. Out there. Sign here!
RAILROADER: They did it!

All the cowboys whoop and holler. The train and brass band leave. The Indian gets up on his pony.

INDIAN: No reason to complain. It's not so bad out there. We still have our People and our Ceremonies and the Sun, Moon and Stars, and the Sand and the Black Stuff Coming Out Of The Ground...
GOVERNMENT AGENT: Black stuff coming out of the ground?
TRAILBLAZER: Civilization, ho-oooooooooooo!

A passle of Okies, dogs, model T's and dust storms passes by, leaving the Indian alone. The wind blows.

INDIAN: It's nice out here in the desert. No rain, no crops, no White Brother.

A Greyhound tour bus pulls up and the passengers file out.

BUS DRIVER: All out for Fort Stinkin' Desert! Last Indian Reservation for two thousand miles. You got fifteen minutes, folks! Get 'em while you can!

Several shots ring out.

BUS DRIVER: Get the Senator back in the bus!

The Senator fires off more shots at the Indian as he is led away.

SENATOR: Godfrey Daniel! Pesky Redskins! Which way's Goshen?
TOURIST GUIDE: Howdy there, Colorful Replica Of America's Past! When is the exciting - in - its - primitive - splendor Snake Dance going to take place?
INDIAN: It's usually in August, but with all our children off in Indian School there's no one left to do the ceremonies.

Eddie gets off the bus.

EDDIE: Hiya, Pop! I'm home!
INDIAN: Hello, Soaring Eagle! It's good to have your back from school!
EDDIE: Aw, come on! Call me Eddie! I'm an American now!
INDIAN: What have they been teaching you?
EDDIE: Just what we need for a better life! French horn, Italian, water polo...
GOVERNMENT AGENT: Yes, at the Custer Memorial Indian School, Eddie's one of our Prize students. We're giving him away next week.




A Freak gets off the bus.


FREAK: Hey, man! Don't let him bring you down, now. There's a lot of young people in this country, just like myself, who really know where the Indian's at. And don't worry. Soon we're all gonna be out here on the Reservation, livin' like Indians, 'n' dressin' like Indians and doing all the simple, Beautiful Things that you Indians do. Hey - got any peyote?
RICH TOURIST: Say, how much is that necklace you're wearing?
LADY TOURIST: Does anybody here know how to do the War Dance?
TOURIST WITH CAMERA: Hold it! Smile.
RICH TOURIST: Isn't it amazing how they survive on this stinking desert?
LAUGHING TOURIST: Ya got any scalps?
TOURIST WITH CAMERA: Lemme get a shot of you and yer squaw!
RICH TOURIST: Let's see the War Dance!
LADY TOURIST: Let's see the Dance!
TOURISTS: Let's see the Dance! Dance! Dance! Dance! Dance!

The Indian dances in a circle as more shots ring out.

BUS DRIVER: OK! OK, folks! Fun's over! Back in the bus!
MOTHER: Where's little Billy Joe?
FATHER: He's in that run-down outhouse over there, Mamma!
INDIAN: That's our Sun Altar.
GOVERNMENT AGENT: Well, Indian - just goes to show you there's an obvious need to conserve our Priceless National Heritage. The Government is turning your home into a National Monument!

The marching band gets off the buss, playing "America The Beautiful," followed by the Senator, who speaks:

SENATOR: It behooves me, 'pon this Historic Occasion, to dedicate the Stinkin' Desert National Historical Monument and Cobalt Testing Range!
TRAILBLAZER: Civilization, ho-ooooooo!

As the Indian watches, the cobalt bomb goes off. The sound dies away after a time, and the smoke clears, revealing the two Indians on horseback.

INDIAN: Well, it's about time. There's been no corn growing for the last few generations. The buffalo's gone. There's no(one) left to live in harmony.
SECOND INDIAN: I wonder where we went wrong?
INDIAN: Let's just keep to the Life Plan. Remember what The Great Spirit said. "Follow the Peaceful Way." The True White Brother is bound to come.

An assistant movie director runs on, yelling through a megaphone.

ASSISTANT DIRECTOR: All right, Indians! Get ready!

A second assistant director follows, with a clap-stick.

SECOND ASSISTANT DIRECTOR: Winning Of The West. "The Massacre." Take four!

He claps the clap-stick to start a "take."

INDIANS: Well, let's go...

He joins a dozen other war-painted Indians who ride up beside him, and then they all gallop away into the sunset, whooping.

THE END

Tuesday 25 April 2017

"Brother", "Julie" e Essencialismos Estratégicos

Esse blog também vai ser usado para discutir assuntos tangentes às nossas discussões em sala de aula.

Na semana passada, discutimos o assim-chamado "essencialismo estratégico": a presunção temporária que raça, gênero e outras construções identárias socioculturais são, de fato, essenciais e imutáveis para fins políticos. Tanto Baum quanto o Paul Gilroy (em seu livro Entre Campos) presumem que tais essencialismos fictícios são as vezes necessárias para a manutenção da unidade política de grupos subalternos, frente a estruturas de dominação como racismo, sexismo e etc.

Mencionei que acho que o Baum fez uma má-leitura de Gilroy quando ele situa esse autor como alguém que nega a necessidade dos essencialismos estratégicos como estratégia de resistência. Gilroy aceita a necessidade disto, mas nós alerta à tendência desses essencialismos caírem em fascismos ou micro-fascismos, uma vez que sua lógica está profundamente enraizada na noção de diferença e subjetividade ocidental que estamos discutindo na sala de aula e que Denise Ferreira da Silva critica arduamente.

Garvey e Dubois

A discussão virou para a tendência, dentro de determinadas braços do(s) movimento(s) negro(s) contemporâneos de supervalorizar uma certa padronização da negritude e a noção de "negro de verdade". Mencionei que esse problema existe no movimento pelo menos desde os tempos das brigas entre as facções de Marcus Garvey e W.E.B. Dubois nos EUA nas primeiras décadas do século passado e que provavelmente atingiu uma certa ápice na "guerra" travada entre as Panteras Negras e a US Organization de Ron Karenga em Califórnia em 1969. É mister notar, neste contexto, que Karenga é o criador do assim chamado "Natal Negro", Kwanzaa, e que ele foi condenado a 1-10 anos de prisão por ter sequestrado e torturado duas mulheres, membros do USO. (Karenga nega que os ataques aconteceram e alega que tudo foi criação da FBI. Porém, sua ex-esposa  testemunho contra ele no tribunal. É mister admitir que não sou grande fã de Karenga e espero que vamos ter a presença, na sala de aula, de meu amigo Adrian Eric, que tem uma visão mais sutil do homem.)

De qualquer maneira, a padronização fascista de identidades foi o alvo da crítica de Gilroy e não o uso de essencialismos estratégicos, que ele considera meio que inevitável. Contra essa tendência, Gilroy salienta o conceito de "diáspora" versus o conceito de "raça".

Durante nossa discussão, lembrei das palavras do poeta Gil Scott-Heron, certamente uma das vozes negras mais poderosas dos EUA do século XX e seu poema "Irmão", escrito em 1970, no auge dessa debate nos movimentos negros nos EUA. Acho que merece ser reproduzido e traduzido aqui:




BROTHER
Gil Scott-Heron, 1970

Tratamos demais em externalismos, irmão.
Sempre com os cabelos naturais, batidas de mão e os dashikis.

Nunca pode um homem construir uma estrutura operante para o capitalismo negro.
Sempre é que o homem leia Mao ouF anon.

Acho que conheço bem demais vocês, revolucionários negros "sinceros".
Lá em cima duma caixa na esquina, falando em estourar os miolos dos rapazes brancos.
Mas não chegamos neste ponto ainda, neh, irmão.

Chamando esse homem de Pai Tomas,
E falando para aquela mulher que ela deve ter cabelos naturais,
Mas você não falaria com ela se ela fosse feia, neh, irmão?

Alguns de nós temos te observado bem de perto.
E agora, sua atitude parece p'ra lá de dúbia,
Seu jeito de atacar as pessoas com sua pose de híper-negão,
Pulando por cima de alguns homens negros pois eles querem conseguir seu B.A. [diploma de Bacharel de Artes]
Mas você nunca está por perto quando seu B.A. está em perigo.
Quero dizer seu rabo preto [your black ass]

Acho que foi fácil demais para você esquecer que você era um crioulinho antes de Malcolm.
Você dirigiu com sua moça branca pela Village [bairro boêmio de Nova Iorque] toda sexta a noite
Enquanto "os de raiz" ficaram por aí te fitando com inveja, bebendo vinho.
Lembre-se?
Você precisa organizar suas bancas de memória, irmão.
Mostra para aquele homem que você chama de Pai Tomas onde é que ele está errado.
Mostra para aquela mulher que você é um homem negro sincero

A única coisa que precisamos é ver você calar a boca e ser negro.
Ajude aquele homem.
Ajude aquela mulher.
É por isto que os irmão existem, irmão.


We deal in too many externals, brother.
Always afros, handshakes, and dashikis.

Never can a man build a working structure for black capitalism.
Always does the man read Mao or Fanon.

I think I know you would-be black revolutionaries too well.
Standing on a box on a corner, talking about blowing the white boy away.
That's not where it's at, yet, brother.

Calling this man an Uncle Tom,
And telling this woman to get an afro,
But you won't speak to her if she looks like hell, will you, brother?

Some of us been checking you act out kinda closely.
And by now it's looking kinda shaky, the way you been rushing people with your super-black bag.
Jumping down on some black men with both feet because they are after their B.A.
But you're never around when your B.A. is in danger.
I mean your black ASS.

I think it was a little too easy for you to forget that you were a negro before Malcolm.
You drove your white girl through the village every Friday night,
While the grass roots stared in envy and drank wine.
Do you remember?

You need get your memory banks organized, brother.
Show that man you call an Uncle Tom just where he is wrong.
Show that woman that you are a sincere black man.

All we need to do is see you SHUT UP AND BE BLACK.
Help that woman.
Help that man.
That's what brothers are for, brother.

E por falar em culturas "essenciais" e apropriações, falei na aula da grande mistura de estilos musicais que aconteceu na América do Norte no século XVII, antes do desenvolvimento da noção de raça e do exclusão racial, quando servos brancos e escravos negros dividiram os mesmos espaços de convivência e um status legal semelhante. Boa parte daquilo que é entendido como "música de raiz" ou "música folclórica" nos EUA foi estabelecida nessa época.

Mais tarde, porém, no século XIX, esse estilo de música foi transformado numa paródia da negritude nas produções do teatro de revista e, por essa razão, ele foi largamente rejeitado pelos vários movimentos negros como "inautêntico", "vendido", ou "não negro".

Os Carolina Chocolate Drops são uma banda negra que está tentando resgatar esse estilo de música, entendido como "branco" nos EUA, como componente vital da história negra. A cantora principal, Rhiannon Giddens, tem feito uma música no estilo tradicional que é de quebrar o coração e que fala de outro assunto que temos discutido na sala de aula: o fim do escravidão e as reações dos ex-escravos ao seus ex-mestres.

The Carolina Chocolate Drops


Nesta versão (chamado "Julie", embora sua estrutura musical vem de um arranjo tradicional), Giddens relata um diálogo entre uma escrava e sua sinhá na hora da chegada das tropas federais durante a Guerra Civil EUAmericana. Um pouco diferente do "grande mito" da lealdade promulgado por filmes como E o Vento Levou, neh? A música é extremamente poderosa porque representa, simultaneamente, ambiguidades e não ambiguidades. Tenho duas versões para compartilhar. A primeira é a mais bonita e a segunda contem um discurso de Giddens sobre como e porque ela escreveu a música. Notável aqui é o fato que Giddens era aluna de Peggy Seeger, irmã do famoso Pete Seeger, rei dos músicos folk norte-americanos, sobre qual escrevi um pequeno artigo na ocasião de sua morte, em 2014. Giddens afirma que Seeger teve uma influência enorme em sua formação musical.

Peggy e Pete Seeger

Enfim, na música, como em tudo que é cultural na interface entre "branco" e "negro", what goes around, comes around...

Rhiannon Giddens

JULIE (Tradicional)
Rhiannon Giddens (Tradicional), 2015 (18xxx)


Julie, oh Julie
Não correras?
Pois vejo que os soldados têm chegado
Julie, oh Julie
Não consegue ver?
Esses diabos vão te levar longe de mim.

Sinhá, oh Sinhá
Não correrei
Pois tenho visto que os soldados têm chegado
Sinhá, oh Sinhá
Eu vejo, sim
E ficarei aqui até eles vêm para mim.

Julie, oh Julie
Você não irá
Deixar essa casa e tudo que você conhece
Julie, oh Julie
Não vai embora daqui
Deixar nós que te amamos e deixar tudo que é caro p'ra você.

Sinhá, oh Sinhá
Irei
Deixarei essa casa e tudo que conheço
Sinhá, oh Sinha
Irei embora daqui
Com a família que me resta
É tudo que é caro p'ra mim.

Julie, oh Julie
Conta uma mentira para mim
Se eles encontram essa arca cheio de ouro ao meu lado
Julie, oh Julie
Fala para aqueles homens
Que essa arca cheio de ouro
É sua, minha amiga.

Sinhá, oh Sinhá
Não mentirei
Se eles encontram aquela arca cheia de ouro ao seu lado
Sinhá, oh Sinhá
Aquela tronca de ouro
É o que você ganhou quando vendeu minhas crianças....

Sinhá, oh Sinhá
Não chora, não
Mas o preço de ficar aqui é alto demais
Sinhá, oh Sinhá
Te desejo bem
Mas em ir embora daqui, estou saindo do inferno.



Julie, oh Julie
Won't you run?
'Cos I see down yonder the soldiers have come
Julie, oh Julie
Can't you see?
Them devils have come to take you far from me

Mistress, oh mistress
I won't run
'Cos I see down yonder the soldiers have come
Mistress, oh mistress
I do see
And I'll stay right here 'til they come for me

Julie, oh Julie
You won't go
Leave this house and all you know
Julie, oh Julie
Don't leave here
Leave us, who love you, and all you hold dear

Mistress, oh mistress
I will go
Leave this house and all I know
Mistress, oh mistress
I will leave here
With what family I've got left, they're all I hold dear



Julie, oh Julie
Won't you lie
If they find that trunk of gold by my side
Julie, oh Julie
You tell them men
That that trunk of gold is yours, my friend

Mistress, oh mistress
I won't lie
If they find that trunk of gold by your side
Mistress, oh mistress
That trunk of gold
Is what you got when my children you sold

Mistress, oh mistress
Don't you cry
The price of stayin' here is too high
Mistress, oh mistress
I wish you well
But in leavin' here, I'm leavin' hell





Friday 24 March 2017

O Problema do Privilégio


Segue aqui um post escrito em novembro de 2015 no blog Keep Ypsi Black. Acho que fala muito sobre o problema de usar o conceito de privilégio como centro organizador dos movimentos anti-racistas. Não vou traduzir tudo, mas sugiro que vocês leiam, mesmo que têm que usar o google translate.

A tese principal da autora é isto:

"A política do privilégio tem feito a importante contribuição de sinalizar como as estruturas de opressão constituem quem somos enquanto pessoas. No entanto, à medida em que os rituais de confissão do privilégio evoluíram, eles mudaram nosso foco, da construção de movimentos sociais que visam a transformação global, para o auto-aperfeiçoamento individual."

Isto, porque...

"... a auto-reflexividade permite a constituição do sujeito branco / colonizador. As lutas anti-racistas / coloniais criaram um desconforto no colonialista que o colono / sujeito branco não pode, de fato, ser auto-determinante. Como resultado, o sujeito branco / colonizador reafirma seu poder através da auto-reflexão. Em particular, os povos indígenas e as pessoas de cor tornam-se a ocasião pela qual o sujeito branco pode auto-refletir sobre o seu privilégio. Se esta pessoa auto-reflete de forma eficaz, ele pode ser concedido o título de "aliado" e construir uma carreira de auto-reflexão. Como muitos na blogosfera têm comentado recentemente (veja, por exemplo, @prisonculture e @ChiefElk), um complexo industrial aliado  desenvolveu-se em torno da confissão profissional de privilégio."

Lembrando a tod@s que o conceito de privilégio entrou relativamente recentemente nos discursos políticos brasileiros, retirado em grande parte da internet americana, onde ele tem sido um conceito organizador de luta faz décadas.

Duas Músicas dos Pogues

The Pogues na década de 1980.


Bem vindos ao blog do curso!

Vou tentar manter esse blog atualizado, toda semana, para oferecer recursos e discussões laterais sobre os assuntos tocados na sala de aula, além de providenciar links para material suplementar.

Esta semana, queria começar oferecendo duas músicas da banda punk/folk irlandês The Pogues. Essa banda começou como  banda punk na década de '80, mas rapidamente deu uma guinada para as músicas tradicionais irlandeses -- só tocadas com uma estética punk. Como o cantor principal da banda, Shane MacGowan (o homem lindo cuja fotografia forma o pano de fundo desse blog) observou uma vez, "Decidimos que não era necessário roubar da tradição africana-americana, uma vez que tínhamos nossa própria tradição étnica-musical para saquear".

The Pogues tiveram um sucesso enorme nas décadas de '80 e '90, que só acabou dado aos crescentes problemas de álcool e drogas do Shane. Apesar de seus problemas, Shane é hoje badalado como um dos maiores poetas da Irlanda. Suas músicas falam muito sobre os excluídos, malditos, bêbados, violentos, e os lutadores para liberdade.

Decidi, então, apresentar duas músicas escritos por Shane e tocados por The Pogues, e que acho representativas das duas caras do assim-chamado "lixo branco". A primeira, "The Sickbed of Cuchulainn" fala dos velhos frequentadores irlandeses do pub da família de Shane, homens que eram jovens na década de '30, veteranos da luta republicana na Irlanda e lutadores anti-fascistas na Espanha. Shane os situam como versões modernas do herói folclórico irlandês Cuchulainn: lutadores para liberdade, tragicamente mortos por seus próprios excessos, porém desafiadores até o fim. Segue a letra:



Em Inglês

McCormack and Richard Tauber are singing by the bed
There's a glass of punch below your feet and an angel at your head
There's devils on each side of you with bottles in their hands
You need one more drop of poison and you'll dream of foreign lands


When you pissed yourself in Frankfurt and got syph down in Cologne
And you heard the rattling death trains as you lay there all alone
Frank Ryan bought you whiskey in a brothel in Madrid
And you decked some fucking blackshirt who was cursing all the Yids


At the sick bed of Cuchulainn we'll kneel and say a prayer
And the ghosts are rattling at the door and the devil's in the chair


And in the Euston Tavern you screamed it was your shout
But they wouldn't give you service so you kicked the windows out
They took you out into the street and kicked you in the brains
So you walked back in through a bolted door and did it all again


At the sick bed of Cuchulainn we'll kneel and say a prayer
And the ghosts are rattling at the door and the devil's in the chair


You remember that foul evening when you heard the banshees howl
There was lousy drunken bastards singing "Billy In The Bowl"
They took you up to midnight mass and left you in the lurch
So you dropped a button in the plate and spewed up in the church


Now you'll sing a song of liberty for blacks and paks and jocks
And they'll take you from this dump you're in and stick you in a box
Then they'll take you to Cloughprior and shove you in the ground
But you'll stick your head back out and shout "We'll have another round"


At the graveside of Cuchulainn we'll kneel around and pray
And God is in His heaven, and Billy's down by the bay


Em Português:

McCormack e Richard Tauber estão cantando ao lado de sua cama
Há uma jarra de ponche por debaixo de seus pés e um ángel por cima de sua cabeça
Há demônios por cada lado de você com garrafas em suas mãos
É só beber mais uma gota de veneno que vai sonhar de terras estranhas

Quando se tomou um porre em Frankfurt e pegou sífilis em Colônia
E escutou o barulho dos trens da morte enquanto estava deitado lá sozinho
Frank Ryan te comprou whisky num bordel em Madrid
E você deu porrada numas camisas negras que estavam xingado os judeus


Em volta do leito de morte de Cuchulainn ajoelharemos e rezaremos
E as fantasmas estão batendo na porta e o Diabo está sentado na cadeira

Na taverna Euston, você gritava que era sua vez
Mas não lhe deram serviço então você quebrou todas as janelas
Te levaram para a rua e te chutaram no cérebro
Então você voltou pela porta giratória e fez tudo de novo


Em volta do leito de morte de Cuchulainn ajoelharemos e rezaremos
E as fantasmas estão batendo na porta e o Diabo está sentado na cadeira

 

Você lembra aquela noite suja, quando ouviu as banshees uivaram? 
Tinha um monte de bastardos bêbados e preguiçosos cantando "Billy in the Bowl"
Te levaram para a missa de meia-noite e te deixaram numa fria
Então você jogou um botão no prato das oferendas e vomitou na igreja.

Agora, você canta uma canção de liberdade para os negros, paquistanenses e escoceses

E eles te levam desse cortiço onde morra e te coloca numa caixa
Te levam para o cemitério e te enfiam na terra
Mas você estica a cabeça para fora e grita "Mais uma saideira!"

Em volta do túmulo de Cuchulainn, ajoelharemos e rezaremos
E Deus está em seu Céu e Billy está lá na beira da baia.




 Shane mandando uma mensagem para os 
paparrazi em 2010.

 
A segunda música é "The boys from the County Hell". Fala de um jovem bêbado, pobre, e violento que trabalha como coletor de dívidas. Essa música representa o lado violento, absolutamente mercenário e cruel desse mesmo tipo de branco irlandês-americano:


Em Inglês

On the first day of March it was raining
It was raining worse than anything that I have ever seen
I drank ten pints of beer and I cursed all the people there
And I wish that all this raining would stop falling down on me

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

At the time I was working for a landlord
And he was the meanest bastard that you have ever seen
And to lose a single penny would grieve him awful sore
And he was a miserable bollocks and a bitch's bastard's whore

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

I recall that we took care of him one Sunday
We got him out the back and we broke his fucking balls
And maybe that was dreaming and maybe that was real
But all I know is I left that place without a penny or fuck all

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

But now I've the most charming of verandas
I sit and watch the junkies, the drunks, the pimps, the whores
Five green bottles sitting on the floor
I wish to Christ, I wish to Christ that I had fifteen more

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

The boys and me are drunk and looking for you
We'll eat your frigging entrails and we won't give a damn
Me daddy was a blue shirt and my mother a madam
My brother earned his medals at Mai Lei in Vietnam

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

On the first day of March it was raining
It was raining worse than anything that I have ever seen
Stay on the other side of the road
'Cause you can never tell
We've a thirst like a gang of devils
We're the boys from the county hell

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

And it's lend me ten pounds and I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning


Em Português

Estava chovendo no 1o de março
Chovendo como nunca tinha visto
Bebi dez pints de cerveja e xingou todos que estavam lá
E queria que essa chuva fosse parar de cair em mim

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mãe me acorda cedo amanha

Naqueles tempos eu trabalhava para o dono de um cortiço
E ele era o bastardo mais miserável do mundo
Se ele perdia um só centavo, ficava de luto
E ele era um saco miserável e a puta de uma vaca de um bastardo


E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha 
 
Lembro que demos conta dele num domingo
Levamos ele para trás do prédio e estouramos seus testículos
E talvez foi um sonho ou talvez foi real
Só sei que deixei o lugar sem uma porra de um centavo nas calças


E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha
Mas agora tenho a mais charmosa de varandas

Mas agora, na mais charmosa das varandas
Sento e assisto os junkies, os bêbados, os cafetões, as putas
Cinco garrafas verdes sentadas no chão
Eu queria por Cristo, queria por Cristo ter quinze a mais

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha

Eu e os rapazes estamos bêbados e te procurando
Comeremos a porra de suas entranhas sem pensar duas vezes.

Meu pai era uma camisa azul e minha mãe uma cafetina
Meu irmão ganhou suas medalhas em My Lai em Vietnã

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha 

Estava chovendo no 1o de Março
Chovendo como eu nunca tinha visto
Fique no outro lado da rua, pois nunca pode saber
Temos a sede de um gangue de diabos
Somos os rapazes da Comarca do Inferno

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha
 
E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha  

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