Friday 24 March 2017

O Problema do Privilégio


Segue aqui um post escrito em novembro de 2015 no blog Keep Ypsi Black. Acho que fala muito sobre o problema de usar o conceito de privilégio como centro organizador dos movimentos anti-racistas. Não vou traduzir tudo, mas sugiro que vocês leiam, mesmo que têm que usar o google translate.

A tese principal da autora é isto:

"A política do privilégio tem feito a importante contribuição de sinalizar como as estruturas de opressão constituem quem somos enquanto pessoas. No entanto, à medida em que os rituais de confissão do privilégio evoluíram, eles mudaram nosso foco, da construção de movimentos sociais que visam a transformação global, para o auto-aperfeiçoamento individual."

Isto, porque...

"... a auto-reflexividade permite a constituição do sujeito branco / colonizador. As lutas anti-racistas / coloniais criaram um desconforto no colonialista que o colono / sujeito branco não pode, de fato, ser auto-determinante. Como resultado, o sujeito branco / colonizador reafirma seu poder através da auto-reflexão. Em particular, os povos indígenas e as pessoas de cor tornam-se a ocasião pela qual o sujeito branco pode auto-refletir sobre o seu privilégio. Se esta pessoa auto-reflete de forma eficaz, ele pode ser concedido o título de "aliado" e construir uma carreira de auto-reflexão. Como muitos na blogosfera têm comentado recentemente (veja, por exemplo, @prisonculture e @ChiefElk), um complexo industrial aliado  desenvolveu-se em torno da confissão profissional de privilégio."

Lembrando a tod@s que o conceito de privilégio entrou relativamente recentemente nos discursos políticos brasileiros, retirado em grande parte da internet americana, onde ele tem sido um conceito organizador de luta faz décadas.

Duas Músicas dos Pogues

The Pogues na década de 1980.


Bem vindos ao blog do curso!

Vou tentar manter esse blog atualizado, toda semana, para oferecer recursos e discussões laterais sobre os assuntos tocados na sala de aula, além de providenciar links para material suplementar.

Esta semana, queria começar oferecendo duas músicas da banda punk/folk irlandês The Pogues. Essa banda começou como  banda punk na década de '80, mas rapidamente deu uma guinada para as músicas tradicionais irlandeses -- só tocadas com uma estética punk. Como o cantor principal da banda, Shane MacGowan (o homem lindo cuja fotografia forma o pano de fundo desse blog) observou uma vez, "Decidimos que não era necessário roubar da tradição africana-americana, uma vez que tínhamos nossa própria tradição étnica-musical para saquear".

The Pogues tiveram um sucesso enorme nas décadas de '80 e '90, que só acabou dado aos crescentes problemas de álcool e drogas do Shane. Apesar de seus problemas, Shane é hoje badalado como um dos maiores poetas da Irlanda. Suas músicas falam muito sobre os excluídos, malditos, bêbados, violentos, e os lutadores para liberdade.

Decidi, então, apresentar duas músicas escritos por Shane e tocados por The Pogues, e que acho representativas das duas caras do assim-chamado "lixo branco". A primeira, "The Sickbed of Cuchulainn" fala dos velhos frequentadores irlandeses do pub da família de Shane, homens que eram jovens na década de '30, veteranos da luta republicana na Irlanda e lutadores anti-fascistas na Espanha. Shane os situam como versões modernas do herói folclórico irlandês Cuchulainn: lutadores para liberdade, tragicamente mortos por seus próprios excessos, porém desafiadores até o fim. Segue a letra:



Em Inglês

McCormack and Richard Tauber are singing by the bed
There's a glass of punch below your feet and an angel at your head
There's devils on each side of you with bottles in their hands
You need one more drop of poison and you'll dream of foreign lands


When you pissed yourself in Frankfurt and got syph down in Cologne
And you heard the rattling death trains as you lay there all alone
Frank Ryan bought you whiskey in a brothel in Madrid
And you decked some fucking blackshirt who was cursing all the Yids


At the sick bed of Cuchulainn we'll kneel and say a prayer
And the ghosts are rattling at the door and the devil's in the chair


And in the Euston Tavern you screamed it was your shout
But they wouldn't give you service so you kicked the windows out
They took you out into the street and kicked you in the brains
So you walked back in through a bolted door and did it all again


At the sick bed of Cuchulainn we'll kneel and say a prayer
And the ghosts are rattling at the door and the devil's in the chair


You remember that foul evening when you heard the banshees howl
There was lousy drunken bastards singing "Billy In The Bowl"
They took you up to midnight mass and left you in the lurch
So you dropped a button in the plate and spewed up in the church


Now you'll sing a song of liberty for blacks and paks and jocks
And they'll take you from this dump you're in and stick you in a box
Then they'll take you to Cloughprior and shove you in the ground
But you'll stick your head back out and shout "We'll have another round"


At the graveside of Cuchulainn we'll kneel around and pray
And God is in His heaven, and Billy's down by the bay


Em Português:

McCormack e Richard Tauber estão cantando ao lado de sua cama
Há uma jarra de ponche por debaixo de seus pés e um ángel por cima de sua cabeça
Há demônios por cada lado de você com garrafas em suas mãos
É só beber mais uma gota de veneno que vai sonhar de terras estranhas

Quando se tomou um porre em Frankfurt e pegou sífilis em Colônia
E escutou o barulho dos trens da morte enquanto estava deitado lá sozinho
Frank Ryan te comprou whisky num bordel em Madrid
E você deu porrada numas camisas negras que estavam xingado os judeus


Em volta do leito de morte de Cuchulainn ajoelharemos e rezaremos
E as fantasmas estão batendo na porta e o Diabo está sentado na cadeira

Na taverna Euston, você gritava que era sua vez
Mas não lhe deram serviço então você quebrou todas as janelas
Te levaram para a rua e te chutaram no cérebro
Então você voltou pela porta giratória e fez tudo de novo


Em volta do leito de morte de Cuchulainn ajoelharemos e rezaremos
E as fantasmas estão batendo na porta e o Diabo está sentado na cadeira

 

Você lembra aquela noite suja, quando ouviu as banshees uivaram? 
Tinha um monte de bastardos bêbados e preguiçosos cantando "Billy in the Bowl"
Te levaram para a missa de meia-noite e te deixaram numa fria
Então você jogou um botão no prato das oferendas e vomitou na igreja.

Agora, você canta uma canção de liberdade para os negros, paquistanenses e escoceses

E eles te levam desse cortiço onde morra e te coloca numa caixa
Te levam para o cemitério e te enfiam na terra
Mas você estica a cabeça para fora e grita "Mais uma saideira!"

Em volta do túmulo de Cuchulainn, ajoelharemos e rezaremos
E Deus está em seu Céu e Billy está lá na beira da baia.




 Shane mandando uma mensagem para os 
paparrazi em 2010.

 
A segunda música é "The boys from the County Hell". Fala de um jovem bêbado, pobre, e violento que trabalha como coletor de dívidas. Essa música representa o lado violento, absolutamente mercenário e cruel desse mesmo tipo de branco irlandês-americano:


Em Inglês

On the first day of March it was raining
It was raining worse than anything that I have ever seen
I drank ten pints of beer and I cursed all the people there
And I wish that all this raining would stop falling down on me

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

At the time I was working for a landlord
And he was the meanest bastard that you have ever seen
And to lose a single penny would grieve him awful sore
And he was a miserable bollocks and a bitch's bastard's whore

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

I recall that we took care of him one Sunday
We got him out the back and we broke his fucking balls
And maybe that was dreaming and maybe that was real
But all I know is I left that place without a penny or fuck all

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

But now I've the most charming of verandas
I sit and watch the junkies, the drunks, the pimps, the whores
Five green bottles sitting on the floor
I wish to Christ, I wish to Christ that I had fifteen more

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

The boys and me are drunk and looking for you
We'll eat your frigging entrails and we won't give a damn
Me daddy was a blue shirt and my mother a madam
My brother earned his medals at Mai Lei in Vietnam

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

On the first day of March it was raining
It was raining worse than anything that I have ever seen
Stay on the other side of the road
'Cause you can never tell
We've a thirst like a gang of devils
We're the boys from the county hell

And it's lend me ten pounds, I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning

And it's lend me ten pounds and I'll buy you a drink
And mother wake me early in the morning


Em Português

Estava chovendo no 1o de março
Chovendo como nunca tinha visto
Bebi dez pints de cerveja e xingou todos que estavam lá
E queria que essa chuva fosse parar de cair em mim

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mãe me acorda cedo amanha

Naqueles tempos eu trabalhava para o dono de um cortiço
E ele era o bastardo mais miserável do mundo
Se ele perdia um só centavo, ficava de luto
E ele era um saco miserável e a puta de uma vaca de um bastardo


E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha 
 
Lembro que demos conta dele num domingo
Levamos ele para trás do prédio e estouramos seus testículos
E talvez foi um sonho ou talvez foi real
Só sei que deixei o lugar sem uma porra de um centavo nas calças


E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha
Mas agora tenho a mais charmosa de varandas

Mas agora, na mais charmosa das varandas
Sento e assisto os junkies, os bêbados, os cafetões, as putas
Cinco garrafas verdes sentadas no chão
Eu queria por Cristo, queria por Cristo ter quinze a mais

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha

Eu e os rapazes estamos bêbados e te procurando
Comeremos a porra de suas entranhas sem pensar duas vezes.

Meu pai era uma camisa azul e minha mãe uma cafetina
Meu irmão ganhou suas medalhas em My Lai em Vietnã

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha 

Estava chovendo no 1o de Março
Chovendo como eu nunca tinha visto
Fique no outro lado da rua, pois nunca pode saber
Temos a sede de um gangue de diabos
Somos os rapazes da Comarca do Inferno

E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha
 
E me empresta dez libras, que te compro um drinque
E mamãe me acorde cedo amanha  

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